domingo, 6 de janeiro de 2013

Acordei e briguei com a preguiça antes de finalmente levantar da cama. Foram longos 15 minutos até isso finalmente acontecer. Me levantei firme de que não voltaria pra cama, já com a toalhas a postos para a higiene pessoal diária. Saí do banheiro e aquele cheirinho de café me fez parecer aqueles cachorrinhos de desenho animado, sendo guiada diretamente pra cozinha. Comecei a preparar meu café da manhã, algumas fatias de pão com manteiga bem torradinhos, especialidade da casa. Enquanto preparava meu banquete, ouvia na TV a Fátima Bernardes anunciar o tema do programa de hoje, “Pessoas que costumam se atrasar”, - Nossa! Um programa especial para mim – pensei. Me permiti perder alguns minutinhos na frente da televisão para me identificar profundamente com aqueles casos que passavam ali. Eu sabia que me atrasaria para o trabalho, mas e daí? Estava aprendendo novas técnicas de como me atrasar com classe na televisão. Até que o telefone tocou. A xícara em uma mão, um prato na outra e um raciocínio matinal mais lento que o normal me fizeram esperar o próximo toque. Até que eu esvaziasse as duas mãos, mais um toque. Mais alguns passos, outro toque.

- Alô?
- Alô, oi. 
- Quem é?
- Oi, sou eu.

Eu já sabia quem era desde a primeira sílaba. Perguntei por hábito. Ou seria para confirmar? Talvez eu estivesse enganada, você nunca liga mesmo. Poderia ser aquele cara insuportável da operadora telefônica que liga todos os dias. Mas no fundo eu sabia que não.

- Ah, oi!
- Tudo bem?

Pergunta irônica não acha? Posso ser sincera ou prefere que eu pincele uma camada de sensibilidade antes de responder?

- Bem, bem.
- E a virada de ano, foi boa?
- Foi sim.

Mais meia dúzia de palavras trocadas e um abismo de palavras não ditas. Tantas frases prontas que ensaiei pra te dizer. Fiz praticamente um roteiro de um filme onde a mocinha sofre injustiçada. E olha que dessa vez abri mão do meu frequente drama. Quando se trata de você eu não preciso usá-lo, já existe drama suficiente para duas telenovelas mexicanas nessa história. Onde você estava na minha virada do ano? Ou quando eu peguei aquela virose terrível e fiquei 5 dias de cama? Longe, distribuindo sorrisos para pessoas que não viveram com você um terço do que eu vivi. Desliguei o telefone com um nó na garganta, aliás, o mesmo que sempre aparece nas poucas vezes que nos falamos. O barulho da televisão me despertou dos devaneios que não valem a pena trazer a tona, não hoje, não agora. Afinal, já se passaram tantos anos desde que você se foi. Eu já deveria estar imune a essas ligações quase que anuais. Olhei no relógio, droga, 20 minutos atrasada, meu cérebro já começou a trabalhar imediatamente na desculpa que eu teria que dar. Corri para o dia com todas aquelas palavras não ditas grudadas dentro de mim. Talvez um dia eu consiga te dizer, ou talvez um dia eu escreva pra você. 


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