terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Olá, eu. Prometi pra mim mesma que só leria essa carta quando pelo menos 30 anos tivessem se passado. Pelas minhas contas já vou ter lá pelos 50. Se for olhar pelo meu RG falsificado que fiz para burlar a segurança das festas, uns 55 no mínimo. Se a genética da minha família é tão boa quanto dizem, estarei começando a sofrer agora com as primeiras rugas. Mas pouco importa, não é para isso que estou gastando meu tempo, e no fundo seu também, para escrever pra você, ou pra mim, tanto faz.

Pra falar a verdade nem eu sei por que estou escrevendo. Deve ser pra te lembrar de brilhar sempre. Falando nisso, como será que está a minha tatuagem depois de todos esses anos? Como será que eu estou? Eu casei? Tive filhos? Acho que não, nunca fui chegada a crianças me enchendo o saco. Espero que você tenha viajado o mundo inteiro! Se não fez isso pare de ler essa carta agora e vá imediatamente comprar uma passagem para Nova York. Não posso morrer sem conhecer a Times Square. 

Você é feliz? Claro que é. Provavelmente uma mulher madura, responsável, independente e com alma de 17. Exatamente como sou agora, tirando o “madura, responsável e independente”. Sou exatamente o contrário do que quero ser quando ler essa carta, mas ainda quero ser eu. Ainda quero estudar, mas dessa vez sem que seja uma obrigação ou uma forma de melhorar o orçamento. Quero estudar pelo prazer de aprender mais do que sei. Quero ter textos publicados, quero ainda andar de salto alto e que o meu estoque de batons nunca acabe. Quero que o meu Ipod esteja sempre atualizado, aliás, você ainda gosta de música tanto quanto eu gostava?

São 3 da madrugada e eu estou ficando confusa, devo escrever no presente, passado ou futuro? Pouco importa, vou escrever do jeito que eu quiser e arriscar soltar um palavrão se você me disser que não aproveitou todos esses dias que viveu. O que você vê quando olha no espelho? Aquela mesma garota loira, de olhar pertinente que pareciam inundar o cômodo de tão profundos que eram? Não, não quero saber o que o tempo fez com eles, só quero saber se tem a mesma sede de vida que tem agora. Se tiver, muito bem, sinta-se abraçada agora mesmo. E o sorriso? Você sorri o bastante?

Caramba, já tem mais de uma folha aqui, era pra ser só um bilhete rápido, mas é que eu preciso te alertar. Você nunca foi a pessoa mais responsável do mundo, aliás, você sempre foi bem tonta mesmo sabe? Costumava levitar ao invés de andar, tropeçava com o próprio vento e derrubava até o que estava longe. Você mudou isso né? Pelo amor de Deus me diga que mudou. 

Posso te adiantar uma coisa, eu vivi bem. Todos esses anos em que vivi, que não foram muitos, mas foram bons, necessários, essenciais podemos dizer. Essenciais para fazer com que eu seja você e que você nunca se esqueça de mim. Somos o mesmo segmento de matéria, alma e vida. Somos vida. Somos tempo. Somos eu e você dentro de mim. Somos sorrisos jogados no tempo, mas nunca perdidos. Sorriso nunca é perda de tempo, tampouco de vida. São sementes de alegria que plantei no interior de mil e uma pessoas que já passaram por mim, por nós. 

Cuide bem de mim daqui por diante. Me perdoe os tropeços ou as possíveis cicatrizes, mas fique feliz por nós. Eu fui feliz, eu sou feliz, eu tenho tudo o que preciso, eu tenho você e toda essa vida. Eu tenho esse sorriso e eu sei voar, eu sei sonhar, eu sei brilhar. O que mais eu posso querer? Sei que este pedaço de papel deve estar amarelado, mas devolva-o a mesma gaveta que encontrou. Quero que outras gerações leiam e sejam tocados por essas palavras. Que sirva de exemplo. Que exista amor suficiente para transbordar uma vida e outras mais. Mais uma última coisa, você ainda não viveu o suficiente. Deixa de besteira e vá. O tempo é seu melhor amigo, vá brindar com ele. 

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